Friday, 16 June 2017

Lena Horne goes to Rio 1960

Lena Horne in 1960 with Dorival Caymmi in Rio; 17 years earlier, in 1943 with Fats Waller in Hollywood.
Trumpet player Booker Pittman, Lena Horne, Booker's wife Ophelia & guitarrist Bola Sete in Rio in May 1960. 

Lena Horne arrives at Galeão Airport in Rio de Janeiro on a Thursday, 19 May 1960, wearing an exclusive Maggy Rouff costume. Her plane had to stop at Ciudad Trujillo (former Santo Domingo) in the Domenican Republic for 7 hours due to a malfunction and Lena had the chance to visit the lovely Caribbean capital.

Lena gave an impromptu news conference summing up her recent career. She said she'd played 'Jamaica', a successful Broadway revue with Ricardo Montalban for 2 years (October 1957-April 1959); did stints at London's Savoy Hotel, New York's Waldorf Astoria and Miami Beach's Eden Roc Hotel; and her most recent albums for RCA Victor were 'Give the lady what she wants' and 'Porgy & Bess' with Harry Belafonte.

Lena talked about her marriage with musical director Lennie Hayton and decalared she was happy to be in Brazil. She mentioned she'd recently recorded 'You don't have to know the language' from the 1947 film 'Road to Rio' where the Andrew Sisters & Bing Crosby sing about being in Rio de Janeiro and not knowing the local language.

On Friday, 20 May 1960, Lena gave a press conference in which she said she fought against racism and race segregation in the U.S.A. Lena expatiated about something most Americans avoid like the plague. 

Miss Horne was asked about Chessman and the death penalty but recoil from answering. She was also asked about the relations between Ike, the US President and Kruschev the Russian PM but said she didn't understand enough of international politics. She'd rather talk about music.
'Ultima Hora', 20 May 1960.  

A linda cantora 'colored' norte-americana Lena Horne, famosa no mundo pela sua fidelidade ao jazz, desembarcou, ontem, quinta-feira, 19 Maio 1960, de um Super G da Varig, no Galeão, e foi logo apresentando seu marido, Lennie Hayton, conhecido chefe de orquestra, ao empresário Carlos Machado, Harry Stone e ao Oscar Ornstein. Viajaram no mesmo avião seu pianista Benny Arrow, baterista Frank Dunlop, contrabaixista Stuart Wheeler e o trompetista John Fresk. Aos reporteres. Lena declarou:

- Vim ao Brasil para uma rápida temporada de 7 dias. É a 1a vez que visito a America do Sul. Tenho muita vontade de conhecer o Brasil e Brasilia. Estreio no próximo dia 23 Maio 1960, no Golden Room do Copacabana Palace.

Trajando um turbante preto e 'manteau' branco, a famosa crooner respondeu as perguntas que lhe eram feitas:

- O modelo que estou usando é de Maggy Rouff e não costumo usar bikini. Tenho 2 filhos, um de 17 e outro de 19 anos que ficaram nos Estados Unidos por motivo de estudo. Estou casada há 3 anos com Lannie. 

A propósito da 'panne' no motor do avião em que viajava, Lena frisou: - Nunca pensei que conheceria Ciudad Trujillo - capital da Republica Dominicana, conhecida como Santo Domingo, que teve o nome do ditador Rafael Trujillo entre 1936 e 1961, quando foi assassinado - mas por causa da panne tive essa oportunidade. O avião em que Lena viajava sofreu um atraso de 7 horas. 

- Estive em cartaz na Broadway por 2 anos com a revista 'Jamaica', junto de Ricardo Montalban; temporada no Hotel Savoy de Londres; no Eden Roc Hotel de Miami Beach, Florida e no Empire Room do Waldorf Astoria de New York. Na televisão atuei no 'Perry Como Show' e no programa de Frank Sinatra

- Meus costureiros favoritos são Christian Dior e Balanciaga. Todos os anos vou à Riviera Francesa para o descanso de verão e canto de graça nos bailes de caridade da Princesa Grace de Mônaco.

Meus ultimos lançamentos pela RCA Victor são 'Joias musicais de Lena Horne para você' ('Give the lady what she wants') e 'Porgy and Bess' com Harry Belafonte.

Recentemente gravei 'You don't have to know the language', que Jimmy Van Heusen & Johnny Burke compuseram para as Andrew Sisters & Bing Crosby em 'Road to Rio', que fala do Brasil, Pão de Açucar e Copacabana.

Tenho predileção pela musica popular, mas me deleito em casa com as obras de Ravel, Debussy e Sibelius.

'Ultima Hora', 21st May 1960.  

- Luto contra a segregação racial em meu país. Não sei se porque sou preta ou simplesmente porque sou humana. 

Lena Horne, que na tarde de ontem, sexta-feira, 20 Maio 1960, palestrou com a Imprensa por volta de uma hora. 

Lena disse que durante toda a quinta-feira tentou ouvir um 'samba brasileiro'. - 'Liguei o radio e qual não foi meu o meu espanto. Só ouvia musica americana'.

Lena, perguntou, então por que isso. Ninguém respondeu

Frisou em seguida que gosta imensamente de nossa música. Um cantor brasileiro que lhe chamou a atenção, João Gilberto, com toda sua 'bossa nova'. Disse que pretende aprender o 'Bim bom' dele.

Na música, o maior compositor é Cole Porter. Maior cantora: Ella Fitzgerald. Em cinema suas preferências vão para o cantor-ator Yves Montand, Ingrid Bergman e Audrey Hepburn. Não falou muito sobre política partidária, mas disse que é democrata 100%. Votará num democrata nas eleições presidenciais de Novembro 1960. 

Perguntaram-lhe também sobre o caso Chessman e o relacionamento Ike-Krushev. Com um sorriso nos lábios, Lena disse que entendia muito pouco de alta política internacional. 'O que eu gosto mesmo, concluiu, é de cantar.' 

'Ultima Hora', 23rd May 1960

On Friday night, 20 May 1960, the same day Lena Horne held a press conference at the Copacabana Palace to talk to the Brazilian press in the afternoon - 'A noite do amor, do sorriso e da flor', a mega Bossa Nova extravaganza took place at the National School of Architecture in which João Gilberto was anointed the King of Brazilian cool.  

'Ultima Hora' 25 May 1960.  

23 May 1960 - Monday - Lena, the talk of town, premieres at Copacabana Palace's Golden Room with a sensational show where she sings 'Bim bom' she had learned just the previous day. She dances to the rhythm of a Brazilian tambourine played by Charles. 'Ultima Hora' attests at the front page that 'Lena Horne endorses Bossa Nova'. João Gilberto wearing a tuxedo and wife Astrud with a night-gown are received by Lena & husband Leonard Hayton at her dressing room for a photo opportunity. 

'Ultima Hora', 2nd June 1960; Norma Benguel, Lena Horne & Dorival Caymmi.
'Ultima Hora', Thursday, 2nd June 1960 - Antonio Maria's column. 
At Carlos Machado's home in Rio de Janeiro. C.Machado (1908-92); from left to right: Paulo Gilvan (1928-2010), Joãozinho aka João Manoel de Araújo Costa Netto (1930-2005), Edson Reis de França aka Edinho (1930-1965), Dorival Caymmi (1914-2008), Bibi Ferreira (1922-2019), Ary Barroso (1903-1964), Marlene aka Victoria Bonaiutti (1922-2014), Norma Bengell (1935-2013), Antonio Maria (1921-1964), Lena Horne (1917-2010), Lennie Hayton (1908-1971). 

Jornal de Antonio Maria Lena Horne e os brasileiros

Ponto de reunião: casa de Carlos Machado, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, décimo andar. Entre os presentes Ary Barroso era o mais velho e os mais moços Dorivalzinho e Nana Caymmi.

A festa começou com o Trio Irakitan apresentando uma canção de cada compositor presente. Durante a execução do número o compositor do número sentava-se ao pé de Lena Horne. Um ritual, mas mesmo assim, agradável.

Caymmi chegou atrasado, como tem feito desde 1938, ano que mudou para o Rio. Mas Lena o amou de saída. Caymmi sentou-se, pegou o violão, cantou ‘Eu não tenho onde morar’. Lena entende quase todas as palavras das canções brasileiras. Uma ou outra que falta o Oscar Ornstein traduz.

As bebidas serviam-se profusamente. Variedade e quantidade. Garçons e maitres. Uma deliciosa batida de maracujá. É a bebida predileta de Lennie Hayton, marido de Lena. Lena bebe gin.

- Você já conhece Hayton? Pergunta-me um repórter.

- Claro que sim. Há muitos anos.

Leonard Hayton é um grande músico dos Estados Unidos. Foi diretor musical da MGM e fez gravações sensacionais. Tem cabelos brancos e usa uma barbicha muito digna. É russo de nascimento.  Abandonou todo seu êxito, quando estava no clímax, para seguir a vida de Lena. Fez bem. Qualquer um, em seu lugar, faria o mesmo. Basta conhecer Lena, essa mulher pública e intimamente admirável, para dizer que Hayton não tinha outra coisa a fazer. Hoje, escreve os arranjos e dirige a orquestra de Lena.

Ary Barroso foi ao piano. Tocou algumas de suas canções. De-repente, um samba. Um samba novo para Nana Caymmi. A ideia, virando-se para Dorival: - Você faz a letra.

Dorival aceita. Há de ser muito bonita uma música de Ary Barroso e Dorival Caymmi.

N’outra sala Nana Caymmi canta uma canção. Que bonita sua voz. Tem muita coisa daquela voz bonita do pai. Lena senta-se aos seus pés, embevecida. Beija-a, depois. Dorival emociona-se.

Vamos para um canto, eu e Caymmi, velhos amigos da Bahia, Recife e Rio. Recordamos um ano, há muitos anos:  1942. Lena Horne era para nós, naquela época, como Brigitte Bardot é para a juventude hoje. A bela mulher sonhada. Pergunta-me Caymmi:

- Se naquele tempo a gente pudesse adivinhar que, hoje, beijaria Lena Horne!

Ninguém iria acreditar em nossa adivinhação. Hoje, beijamos Lena e Lena nos beija, com um amor muito acima de todos os amores. Nós a amamos e ela nos ama... tudo isto sem uma palavra de inglês.

Roberto Menescal, violinista jovem e raro, aprende uns acordes com Hayton. Mostra-lhe Hayton, o lugar onde por os dedos. Menescal é um jovem que sabe aprender. Aprender sempre, cada vez mais. Segue as indicações de Hayton. Hayton o leva para o piano. Mostra-lhe os acordes de outra canção. Sylvinha Telles canta, com sua afinação inata. Hayton mostra-nos toda sua competência.

Aloysio Oliveira observa: - 'Ele faz os acordes exatos. Nada além do belo e necessário'.

Ao fim da noite. Três canções de Lena. Lena sem formalidade, olhando-nos bem nos olhos, às vezes, a um palmo de nós. Todos, em sua volta e em volta de Hayton. Sem ritual. Todos felizes em vê-la e ouvi-la. Menescal, Luiz Carlos Vinhas (jovem pianista, que vai longe), Norma Benguel, Sylvia Telles, todos...

A noite terminou em um passeio de automóvel, à beira-mar. No carro imenso do cronista: Lena, Hayton, Caymmi, Dorivalzinho, Nana, Fernando Ferreira... Havia lugar ainda para um ‘team’ de basketball... o carro era como a noite... muito grande.

Uma pena isto de Lena ir-se embora. Mas, ela diz que volta ao Brasil. Que Deus a traga, um dia... Ou que nos leve, um dia... É uma pessoa para se rever, de vez em quando.

N.B.: 'Ultima Hora' columnist Antonio Maria claimed he knew Lannie Hayton a lot, but that doesn't seem to be true. Leonard Hayton was actually born in New York City on 14 February 1908 - from Jewish parents that may have migrated from Russia - but not exactly as Mr. Antonio Maria said. 
Hena Horne on the cover of 'Manchete', Brazil's 'Life' counterpart. 
RCA released 'Give the lady what she wants' as 'Joias Musicais de Lena Horne para você' for the Brazilian market.

1958 'Jamaica' original-cast album; Miss New Jersey & Miss Illinois 1960 at the Eden Roc, where Lena Horne reigned supreme!

Lena em autêntico ‘one-woman-show’ cantou, dançou, transpirou e arrebatou

‘Diferente’ é a palavra que melhor define Lena Horne. Canta diferente, apresenta-se diferente, é diferente em tudo. A platéia super-lotada do Golden Room do Copacabana Palace assistiu um show diferente, inclusive daquilo que esperava ver. Sim, porque a Lena Horne conhecida do cinema não é a que se vê no palco. Bem disse ela na sua entrevista que precisa do contato com o publico para se desenvolver completamente. De um começo meio tímido, talvez um tanto frio, passou a arrebatadora tão logo identificou-se com a assistência.

Além do mais, apesar de todo seu passado artístico, Lena estava emocionada ao entrar em cena. No seu vestido azul-chumbo, modelo exclusivo de rara elegância – diria que a cantora estava pálida. Ou foram as luzes rosas, azuis, brancas que a fizeram ficar com rosto que nem moreno era.

Rapidamente, porém, ela estava ganhando cor. E ânimo também. Quando entrou no samba 'Bim bom', de João Gilberto, cantando e dançando, a audiência já estava ganha. Era dela, inteiramente, sem ninguém ficar de fora. Lena estava à vontade para fazer o que quisesse; estava consagrada. Com lenço no pescoço, transpirando por todos os poros cantava com muita voz e muita graça, e com movimentação espetacular. Era a música, era o texto que dizia, era o ritmo e a melodia. Autêntico ‘one-woman-show’.

You don’t have to know the language’ (Jimmy Van Heusen-Johnny Burke), musicas de Cole Porter, de Gershwin, de contemporâneos, arrancaram aplausos antecipados, nos primeiros acordes. E ‘Stormy wheather’ suspiros, seguidos pelo silencio de prender a respiração. Para irromper num aplauso que só os grandes do Golden Room tiveram a ventura de ouvir.

A orquestra, ensaiada e regida pelo marido Lennie Hayson, um espetáculo a parte. Ora discreta, ora dominadora, sempre se encaixando magnificamente nas canções de Lena ou vice-versa. E sem a cacete apresentação individual dos músicos. Que se marcam ao invés, com seus instrumentos no piano Benny Arrow, no trompete John Fresk, na bateria Frank Dunlop e o fabuloso Stuart Whereley no contrabaixo.

Verdadeira noite de gala, com publico dos mais elegantes para um grande espetáculo. Repertório ao agrado de todos, mas que deixou Lena visivelmente exausta. Que se prepare pois o bis vai sair insistentemente. J.L. 'Correio da Manhã',  25 May 1960.

Lena Mary Calhoun Horne was born on 30 June 1917, in Bedford-Stuyvesant, Brooklyn, New York. 

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